Reflexão sobre o Futuro da Agricultura Brasileira: Entre o Agroexportador e a Soberania Alimentar

Mar 25, 2025 at 12:00 PM
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O Brasil enfrenta um dilema crucial em relação à sua estrutura agrícola. Enquanto algumas commodities, como café, carne e óleo de soja, apresentam aumentos significativos em seus preços, outras permanecem estáveis ou até diminuem. Esse cenário reflete uma complexa interação entre a dependência do modelo agroexportador, as práticas monopolistas no comércio desses produtos e a ausência de políticas públicas eficazes para promover uma distribuição justa de alimentos. O economista João Pedro Stedile, ligado ao MST, alerta que é fundamental repensar a forma como o país produz e distribui alimentos, priorizando a agricultura familiar e garantindo acesso universal a preços justos.

A crise atual evidencia os limites do modelo predominante, onde poucas empresas controlam grande parte do mercado, determinando preços sem considerar o impacto social. No Rio Grande do Sul, por exemplo, fenômenos climáticos extremos, como secas e enchentes, têm sido exacerbados pelo monocultivo de soja, causando bilhões em perdas econômicas. Essa situação demonstra a necessidade urgente de investir em sistemas mais diversificados e sustentáveis, como a pluricultura, que poderiam mitigar tais consequências.

No entanto, mudanças estruturais requerem visão de longo prazo. A implementação de redes locais de produção, apoiadas pela agricultura familiar e cooperativas agroindustriais, pode fortalecer a soberania alimentar regional. Ao redor das grandes cidades, a criação de "cinturões verdes" possibilitaria a rápida disponibilização de alimentos frescos e acessíveis. Além disso, medidas como a compra estratégica de estoques pela Conab e a entrega subsidiada para populações vulneráveis poderiam aliviar imediatamente a pressão inflacionária.

Essas iniciativas só serão viáveis se combinadas com uma reforma agrária ampla e inclusiva, garantindo acesso à terra para camponeses pobres. O modelo atual do agronegócio, baseado no monocultivo de commodities, concentra riqueza, desmata áreas essenciais e utiliza intensamente agrotóxicos, comprometendo a biodiversidade e alterando o clima. Para romper esse ciclo, é indispensável redefinir o papel do Estado, transformando alimentos de simples mercadorias em direitos fundamentais.

O futuro da agricultura brasileira está em jogo. A sociedade precisa decidir se seguirá dependente de um sistema que privilegia exportações e lucros concentrados ou se optará por um novo paradigma que coloque a segurança alimentar e a equidade no centro de suas prioridades. As soluções existem, mas exigem vontade política e engajamento coletivo para serem plenamente realizadas. A transição para um modelo mais justo e sustentável não apenas protegerá o meio ambiente, mas também melhorará significativamente a qualidade de vida de milhões de brasileiros.