As tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China têm remodelado significativamente o cenário global de commodities agrícolas. Desde que Donald Trump intensificou as disputas tarifárias durante seu mandato, observa-se uma reconfiguração nos fluxos comerciais, com Pequim diminuindo gradualmente sua dependência dos produtos americanos. Esse movimento impacta diretamente mercados globais, criando novas oportunidades para países como o Brasil. Um relatório recente do BTG Pactual destaca essas mudanças, indicando quedas expressivas na participação norte-americana em várias categorias, exceto na carne bovina, onde há sinais de leve crescimento.
Desde 2018, quando as barreiras comerciais começaram a se intensificar, o comércio bilateral entre os dois gigantes tem mostrado um declínio constante. A soja, principal commodity afetada, viu sua fatia global cair de 20% para apenas 15% entre 2019 e 2024. No caso do milho, a redução foi ainda mais drástica, passando de 3,9% para meros 0,8%. As proteínas animais também não escaparam dessa tendência, com o frango caindo de 4% para 1,3% e a carne suína despencando de 5,8% para 1,4%. Esses números revelam uma clara mudança estratégica por parte da China, que busca diversificar suas fontes de suprimentos.
O único setor que desafia essa trajetória descendente é a carne bovina. Embora tenha registrado um pico em 2022, representando 1,7% do comércio global, a relação comercial entre os EUA e a China continua modesta, situando-se atualmente em torno de 1,2%. Mesmo assim, especialistas destacam que o impacto dessas alterações pode ser limitado para produtores brasileiros, especialmente considerando que o mercado chinês já vinha ajustando suas importações desde 2018.
No entanto, o cenário oferece perspectivas promissoras para o Brasil. Empresas brasileiras de carnes, como Minerva, Marfrig, BRF e JBS, estão sendo vistas como principais beneficiárias deste rearranjo comercial. O redirecionamento de volumes brasileiros para o mercado chinês pode elevar preços médios globalmente, particularmente porque a China demonstra preferência por cortes menos nobres, como coxas e pés de frango ou partes dianteiras bovinas. Além disso, o setor de grãos brasileiro, notadamente a SLC Agrícola, está posicionado para colher ganhos adicionais.
A soja brasileira, em particular, pode experimentar um aumento relevante nos preços de curto prazo, dado que ela constitui a maior parcela do fluxo comercial entre os Estados Unidos e a China. Os analistas enfatizam que esse impacto positivo pode ser mais significativo comparado ao das demais commodities. Assim, enquanto as relações comerciais entre os EUA e a China continuam evoluindo, o Brasil emerge como um ator crucial, pronto para capitalizar as oportunidades emergentes no setor agropecuário.