O vice-presidente Geraldo Alckmin propôs recentemente uma modificação no cálculo da taxa básica de juros do Brasil, a Selic. Ele sugeriu excluir os custos de alimentos e energia desses cálculos para enfrentar melhor a inflação crescente. No entanto, economistas alertam que tal medida pode mascarar a realidade econômica e não resolver o problema estrutural subjacente. A inflação brasileira atingiu 5,06% nos últimos 12 meses, superando a meta estabelecida pelo Banco Central.
Embora a ideia seja comparada com práticas dos Estados Unidos, especialistas argumentam que as economias são muito diferentes. Além disso, a proposta ignora questões fundamentais como a ineficiência da infraestrutura energética brasileira e a necessidade de controle das despesas públicas. Para especialistas, o caminho mais eficaz seria reduzir gastos governamentais e implementar reformas fiscais significativas.
A sugestão feita por Alckmin gerou reações diversas no meio acadêmico e empresarial. Muitos analistas econômicos questionam se excluir itens voláteis como alimentos e energia realmente contribuiria para uma queda sustentável da inflação. Em vez disso, argumentam que isso poderia criar uma falsa impressão de melhora econômica sem lidar com as causas profundas do aumento dos preços.
O economista Hugo Garbe aponta que mudar as regras para alcançar objetivos imediatos é uma forma de "cosmético estatístico". Segundo ele, a inflação ainda seria sentida pela população, especialmente pelos mais vulneráveis, independentemente de qualquer ajuste nos índices oficiais. Já Acilio Marinello, coordenador de um programa de MBA, destaca que a proposta evidencia falhas na gestão fiscal do governo. Ele ressalta que aprovar medidas legislativas e reduzir gastos desnecessários seriam passos mais eficazes rumo à estabilidade econômica. O déficit público continua sendo um grande obstáculo para o controle da inflação.
Apesar da referência aos Estados Unidos em sua declaração, especialistas afirmam que a comparação não leva em conta diferenças essenciais entre as duas economias. Por exemplo, o sistema energético americano é muito mais avançado e eficiente do que o brasileiro. Isso significa que fatores externos têm impactos distintos em cada país.
Marinello observa que o alto custo da energia no Brasil não está relacionado apenas ao preço internacional do petróleo ou outros combustíveis, mas sim à obsolescência da infraestrutura local. Equipamentos antigos e frequentes quedas de energia tornam a distribuição cara e ineficiente. Além disso, os alimentos representam uma parcela significativa do orçamento familiar brasileiro, diferentemente do contexto americano. Ignorar essa realidade ao aplicar modelos estrangeiros pode resultar em políticas inadequadas. Economistas recomendam que o foco deve estar em melhorar a eficiência operacional e promover reformas estruturais antes de considerar mudanças nas métricas de inflação.