Um dos grandes desafios globais enfrentados atualmente é o paradoxo entre a fome crescente e o desperdício excessivo de alimentos. No Brasil, esse cenário ganha contornos ainda mais alarmantes com a volta do país ao Mapa da Fome das Nações Unidas. Apesar de recentes avanços que indicam uma possível saída dessa condição em 2025, o problema persiste como um alerta sobre as desigualdades estruturais e os impactos socioambientais associados.
A recuperação parcial observada nos últimos anos demonstra melhorias significativas na segurança alimentar brasileira. De acordo com dados da ONU, a insegurança alimentar severa reduziu drasticamente, passando de 17,2 milhões de pessoas em 2022 para apenas 2,5 milhões em 2023. Essa queda expressiva reflete tanto esforços governamentais quanto iniciativas locais que buscam enfrentar as causas profundas da subalimentação. No entanto, questões históricas permanecem, como as disparidades entre áreas urbanas e rurais, onde a melhoria foi menos efetiva. Ainda assim, esses números renovam a esperança de que estratégias adequadas possam erradicar definitivamente a fome no território nacional.
Paralelamente à luta contra a fome, o desperdício de alimentos emerge como um obstáculo crucial a ser superado. Estudos recentes apontam que bilhões de toneladas de alimentos são descartadas anualmente em todo o mundo, mesmo enquanto centenas de milhões de pessoas vivenciam a escassez alimentar. No Brasil, embora ainda não haja dados precisos, estima-se que entre 23 milhões e 82,1 milhões de toneladas sejam perdidas ou jogadas fora. Ações internacionais, como o plano norte-americano para reduzir o desperdício alimentar e ampliar a reciclagem de resíduos orgânicos, servem como inspiração para políticas locais. No país, o III Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional busca integrar diferentes setores da sociedade, promovendo soluções práticas como a criação de cozinhas solidárias e a implementação de sistemas de compostagem urbana.
A construção de um futuro sustentável exige compromisso coletivo e mudanças nas práticas individuais e institucionais. Reduzir o desperdício de alimentos não só contribui para combater a fome, mas também minimiza os impactos ambientais relacionados à produção agrícola e ao consumo excessivo. Além disso, fortalecer políticas públicas inclusivas pode garantir que ninguém precise passar fome em um mundo onde recursos suficientes existem para todos. A conscientização sobre essas questões deve começar desde cedo, formando gerações mais responsáveis e empáticas em relação às necessidades de seus semelhantes.