No decorrer dos últimos anos, a ascensão global dos medicamentos análogos ao hormônio GLP-1 trouxe à tona reflexões sobre suas implicações econômicas e sociais. Reconhecidos por sua eficácia no controle do apetite, esses fármacos estão transformando indústrias variadas como a alimentícia, de bebidas e até mesmo o setor turístico. No entanto, um estudo recente realizado pela Universidade de Ohio revelou um efeito colateral inesperado: aumento significativo no desperdício de alimentos entre usuários desses medicamentos.
Em uma pesquisa conduzida pelo professor Brian Roe na Universidade de Ohio, foi descoberto que 25% das pessoas em tratamento com esses medicamentos relataram maior descarte de alimentos. A investigação, publicada na revista científica Nutrients, entrevistou 505 americanos utilizando GLP-1 há aproximadamente um ano. Entre os participantes, predominavam aqueles que consumiam semaglutida, seguidos pelos usuários de tirzepatida e liraglutida. O estudo destacou que o problema é mais frequente entre pacientes recém-iniciados no tratamento, possivelmente devido às náuseas frequentemente associadas às primeiras doses.
Outro fator relevante mencionado no artigo é a mudança nos hábitos alimentares, onde indivíduos eliminam categorias específicas de alimentos durante processos de emagrecimento, resultando em sobras não utilizadas. Embora o fenômeno seja comum em qualquer dieta, a ampla adoção dos medicamentos GLP-1 potencializa esse impacto. Estima-se que cerca de 6% da população adulta americana já utiliza esses produtos, totalizando aproximadamente 22 milhões de pessoas. Este número tende a aumentar à medida que as patentes expiram e versões genéricas se tornam acessíveis globalmente.
Do ponto de vista ambiental e econômico, especialistas sugerem estratégias para mitigar o problema, como a oferta de porções menores pelos fabricantes e maior conscientização entre os consumidores sobre planejamento adequado de refeições.
Com a previsão de crescimento exponencial no uso desses medicamentos até 2030, tanto empresas quanto governos têm papel crucial na formulação de políticas que minimizem o impacto ambiental desse fenômeno emergente.
Os representantes das farmacêuticas Novo Nordisk e Eli Lilly declinaram comentar sobre os achados do estudo.
De acordo com o pesquisador Brian Roe, os usuários podem alcançar uma "vitória dupla" ao combinar perda de peso com economia, ajustando suas práticas de compra e preparo de alimentos.
Este estudo ilustra como intervenções médicas, ainda que benéficas para a saúde individual, podem gerar consequências imprevistas no nível coletivo. É fundamental que as empresas farmacêuticas e as indústrias alimentícias trabalhem juntas para desenvolver soluções sustentáveis que equilibrem os benefícios dos medicamentos GLP-1 com práticas responsáveis de consumo. Ao promover uma abordagem holística, podemos maximizar os resultados positivos desses avanços terapêuticos enquanto minimizamos seus impactos negativos sobre o meio ambiente.