O território que abrange a floresta tropical até os Andes Peruanos, cruzando fronteiras com o Brasil, é lar dos povos Kaxinawá e Kulina. Essas comunidades fazem parte das mais de 300 etnias indígenas do Brasil. Com políticas públicas voltadas à inclusão dessas populações, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), reformulado em 2023, busca ampliar seu alcance entre povos tradicionais. Atualmente, o programa está presente em 18 estados, beneficiando milhares de agricultores. No Acre, ele foi implementado recentemente na região do Alto Rio Purus, permitindo aos agricultores indígenas da aldeia Nova Fronteira participarem ativamente como fornecedores.
A celebração do início do PAA Indígena no Acre marca um marco histórico para as comunidades locais. Além de fortalecer hábitos alimentares ancestrais, o programa garante segurança alimentar e nutricional, além de promover oportunidades econômicas. Os alimentos produzidos nas aldeias serão destinados às escolas indígenas, estimulando uma conexão cultural e ambiental. Esse esforço conjunto envolve governo federal, estadual e municipal, bem como associações locais e instituições como a Funai.
O PAA Indígena representa uma nova fase na relação entre Estado e povos originários. Ao possibilitar que agricultores kaxinawás comercializem seus produtos diretamente para as escolas indígenas, o programa incentiva práticas agrícolas sustentáveis e valoriza cultivos tradicionais. Essa iniciativa não apenas melhora a qualidade da merenda escolar, mas também gera renda para famílias locais. O cartão disponibilizado pelo Governo Federal permite que esses produtores recebam pagamentos diretamente em suas contas bancárias, superando barreiras geográficas e logísticas.
O impacto do PAA Indígena vai além da economia local. Ele resgata a importância do cultivo tradicional na vida cotidiana dessas comunidades. Muitos jovens, afastados por influências externas, redescobrem sua ligação com a terra através desse programa. Para lideranças como Kelia Rodrigues Huni Kuĩ, essa é uma oportunidade única de fortalecer a autonomia alimentar e cultural de suas aldeias. A diversidade de produtos cultivados — desde frutas tropicais até hortaliças — reflete a riqueza agroflorestal do território. Essa troca beneficia tanto estudantes quanto agricultores, criando uma rede de apoio mútuo.
No coração da Amazônia, onde o rio Purus molda paisagens e rotinas, o PAA enfrenta desafios únicos. A acessibilidade limitada exige soluções inovadoras para garantir que os alimentos cheguem às escolas indígenas com qualidade e regularidade. Apesar das distâncias, o programa demonstra ser uma ferramenta eficaz para reduzir disparidades sociais e econômicas. A parceria entre órgãos governamentais e associações locais facilita a organização das entregas semanalmente, adaptando-se ao calendário agrícola de cada região.
O sucesso do PAA Indígena depende de colaborações sólidas entre diferentes níveis do governo e entidades locais. Em Santa Rosa do Purus, onde 70% da população é indígena, essa sinergia torna-se ainda mais relevante. A regionalização da merenda escolar transforma realidades antes marcadas pela dependência de alimentos ultraprocessados. Lideranças como Artemildo Pereira Kaxinawá destacam o orgulho de ver suas tradições valorizadas economicamente. Cada entrega de alimentos simboliza um passo rumo à autossuficiência e à preservação cultural, reforçando a importância dessas iniciativas para o futuro das comunidades amazônicas.