O sistema global de produção alimentar enfrenta enormes desafios diante do avanço das mudanças climáticas, que incluem secas prolongadas, inundações e ondas de calor. Esses eventos extremos não apenas reduzem a produtividade agrícola, mas também elevam os preços dos alimentos e comprometem a cadeia de suprimentos. Além disso, estudos recentes indicam que o aumento nas emissões de dióxido de carbono pode diminuir significativamente a disponibilidade de nutrientes essenciais, como ferro, zinco e proteínas, colocando em risco milhões de pessoas até 2050. O tema é amplamente discutido no evento Nutrição para o Crescimento (N4G), realizado em Paris, onde especialistas e governos buscam alternativas mais sustentáveis.
Os modelos atuais de produção agrícola são responsáveis por cerca de um terço das emissões de gases do efeito estufa e consomem aproximadamente 70% da água doce disponível no mundo. Esse cenário coloca em evidência a necessidade urgente de reformular práticas agrícolas tradicionais, particularmente as baseadas em monoculturas intensivas e uso excessivo de agrotóxicos. Arlène Alpha, pesquisadora do Cirad, destaca que o modelo predominante ofereceu comida barata, mas ocasionou graves consequências ambientais e sociais.
Diante dessa realidade, alternativas como a agroecologia têm sido propostas como solução. Elas enfatizam práticas que respeitam o meio ambiente, promovem autonomia entre pequenos produtores e conectam consumidores diretos aos agricultores. A primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, reforçou a importância de investir em agricultores familiares como forma de mitigar os impactos climáticos, ao mesmo tempo em que reconhece o papel estratégico do agronegócio.
No contexto internacional, os Emirados Árabes Unidos exemplificam como a inovação tecnológica pode transformar sistemas agrícolas em regiões adversas. Segundo Amna Al Shamsi, ministra das Mudanças Climáticas, o país busca reduzir o desperdício agrícola em 50% até 2030 e adotar técnicas climaticamente inteligentes. Paralelamente, o Programa Mundial de Alimentos (WFP) utiliza dados científicos e previsões climáticas para antecipar crises alimentares globais.
A cúpula N4G, realizada a cada quatro anos, reúne líderes mundiais para definir compromissos concretos rumo à segurança alimentar. Com foco em políticas públicas, parcerias privadas e financiamento internacional, o encontro visa garantir soluções eficazes contra os desafios impostos pelas mudanças climáticas. A transição para sistemas agrícolas mais resilientes depende de uma colaboração multissetorial e de um entendimento profundo sobre os impactos ambientais.
A crise alimentar causada pelas mudanças climáticas exige soluções inovadoras e inclusivas. A promoção de práticas sustentáveis, como a agroecologia, e a adoção de tecnologias modernas podem ser cruciais para enfrentar esse desafio. Ao unificar esforços globais, é possível construir um futuro mais resiliente e seguro para as próximas gerações.