63% dos pais nunca falaram sobre morte com filhos pequenos, diz estudo
Jun 19, 2024 at 1:00 PM
Enfrentando a Morte: Um Guia Essencial para Pais Apoiarem Seus Filhos
A morte é um tema delicado e muitas vezes evitado quando se trata de conversar com crianças. No entanto, abordar essa questão de forma sensível e apropriada pode ser fundamental para o desenvolvimento saudável da criança. Neste artigo, especialistas compartilham orientações valiosas sobre como os pais podem ajudar seus filhos a lidar com a perda e a compreender o ciclo da vida.Quebrando o Silêncio: A Importância de Conversar sobre a Morte com as Crianças
Entendendo a Necessidade de Diálogo
De acordo com um levantamento da University College London, realizado em 26 países, incluindo o Brasil, a maioria dos pais evita conversar sobre a morte com seus filhos. Cerca de 63% dos pais com crianças entre 5 e 10 anos nunca abordaram o assunto, 21% tiveram apenas uma conversa e apenas 16% falavam abertamente sobre o tema.No entanto, a psiquiatra Danielle H. Admoni, especialista em psiquiatria geral, da infância e adolescência, e pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), alerta que essa postura pode ter consequências negativas. "Minimizar uma perda fará com que a criança crie pensamentos distorcidos e incompatíveis com a realidade, gerando consequências no desenvolvimento psíquico infantil", explica a especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).Promovendo um Entendimento Saudável
A psicóloga Monica Machado, fundadora da Clínica Ame.C e pós-graduada em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, ressalta que conversar sobre o assunto com a criança pode ajudá-la a compreender a finitude da vida e prevenir potenciais traumas no futuro. "Vale lembrar que as crianças não devem ser rotuladas como incapazes de lidar com uma perda. Abordar a morte de maneira sensível e apropriada à idade pode ajudar a mitigar o impacto emocional e promover um entendimento saudável do ciclo da vida", reforça.Quebrando o Silêncio: Orientações Práticas
Nesta quarta-feira (19/6), Dia Nacional do Luto, especialistas compartilham valiosas dicas sobre como os pais podem abordar o tema da morte com seus filhos:Quem Deve Conversar com a Criança?
Segundo Monica Machado, a pessoa que deve conversar com a criança deve ser uma referência de confiança e vínculo. "Ter o olhar acolhedor, a escuta atenta e a aceitação das reações é fundamental para que ela consiga processar as informações com total liberdade para exteriorizar suas emoções", explica a psicóloga.Como Iniciar a Conversa?
A psiquiatra Danielle Admoni recomenda fazer uma sondagem prévia. "Pergunte o que ela entende, até para você ter uma ideia do quanto de informação a criança tolera e evitar expor além do necessário. Nem todas suportam muitos detalhes", orienta.Lidando com Perguntas Repetidas
Quando a criança fizer as mesmas perguntas várias vezes, Danielle Admoni aconselha ter muita paciência. "Quando vier uma pergunta repetida, use sempre a mesma explicação, mas diversifique as palavras. Ampliar o repertório pode deixar a criança um pouco menos confusa, ainda que ela não tenha total compreensão do que significa a morte", argumenta a psiquiatra.Evitando Associações Prejudiciais
Jamais associe a morte com sono ou viagem, alerta a psicóloga Monica Machado. "A criança entende as frases exatamente como são ditas, e isso pode repercutir negativamente no cotidiano", pontua. Segundo ela, a criança pode ter a ilusão de que a pessoa que morreu está apenas dormindo e vai acordar a qualquer momento, ou achar que alguém que viaja não volta mais, o que pode comprometer seu próprio sono e gerar crises sempre que os pais viajarem.Validando os Sentimentos da Criança
É essencial que os pais não desconsiderem o que a criança sente e pensa. "Dê espaço e oportunidades para seu filho expor, à sua maneira, seus medos, sentimentos e suas milhões de dúvidas. Mostre que você se importa. Ouça-o até o final, sem interrupções. Essa postura fará com que seu filho sinta conforto para abrir suas emoções", explica Danielle Admoni.Compartilhando Suas Próprias Emoções
Monica Machado recomenda que os pais não escondam seus próprios sentimentos. "Não queira passar a imagem de que está tudo bem. Ao contrário, exponha suas emoções e chore, se tiver vontade. Isso fará a criança perceber que seu próprio sentimento é normal. Demonstre que, assim como seu filho, você também está muito triste, e que é absolutamente natural", elucida a psicóloga.Participação em Rituais
Quanto à participação da criança em velórios e enterros, as especialistas concordam que não se deve forçá-la, mas que ela pode se beneficiar de participar junto com os adultos. "Explique muito bem antes como é o velório ou o enterro, e pergunte se ela quer ir. A criança precisa saber antes que será triste, e que muitas pessoas estarão chorando. Não decida pela criança que ela deve ficar de fora, mas também não a obrigue a ir se ela não quiser, e não deixe que se sinta culpada se não for", esclarece Danielle Admoni.Apoio e Paciência ao Longo do Processo
Monica Machado ressalta que o luto é um processo, e não um evento. "Isso quer dizer que demanda tempo, e cada criança precisará do seu para superar a perda. Pressionar a criança para voltar à vida normal, sem dar o tempo necessário, implicará em outros problemas ou reações negativas", alerta a psicóloga.Danielle Admoni complementa que é natural que a criança apresente mudanças de comportamento, como choro fácil, episódios de raiva, agitação e medo de ir à escola. "No começo, deixe-o se manifestar como preferir, sem julgamentos. Há quem prefira chorar e gritar. Outros, precisam de solidão e silêncio para absorver as informações. Permita que seu filho experimente as emoções conforme seu temperamento, mas sempre ficando por perto", orienta a psiquiatra.Quando Buscar Ajuda Profissional?
Danielle Admoni alerta que é preciso observar episódios de raiva ou hostilidade excessivas, ou quando a criança não expressa nenhum luto, ou quadros de ansiedade e desmotivação que interferem nas atividades diárias, durando semanas. "Se chegar a este ponto, é hora de buscar suporte com profissionais de psicologia e/ou psiquiatria", recomenda a especialista.