Reavaliação da Teoria dos Ultraprocessados: O Debate Sobre Soluções Parciais

Mar 24, 2025 at 1:19 PM
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No campo da nutrição, um debate crescente questiona a validade de classificar todos os alimentos ultraprocessados como prejudiciais. Reportagens em veículos renomados, tanto nacionais quanto internacionais, têm explorado a ideia de que alguns produtos desse grupo podem ser menos nocivos do que outros. Essa discussão surge em meio a uma onda de evidências científicas que conectam esses alimentos ao aumento de doenças crônicas. No entanto, especialistas alertam que buscar alternativas "menos ruins" dentro dessa categoria pode mascarar o problema maior e perpetuar um sistema alimentar insalubre.

O conceito de ultraprocessamento foi introduzido há 15 anos por pesquisadores brasileiros do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo. Eles desenvolveram a Classificação NOVA, que organiza alimentos com base no grau e propósito de processamento. A criação dessa teoria foi impulsionada pelo aumento das doenças crônicas em países como o Brasil, onde ingredientes fragmentados substituem alimentos inteiros. Apesar disso, surgiram vozes contrárias, especialmente de setores industriais, que tentam minimizar os impactos desses produtos.

A principal crítica vem daqueles que argumentam ser impossível eliminar completamente os ultraprocessados da dieta moderna, especialmente em nações como os Estados Unidos, onde grande parte das calorias consumidas provém desses itens. Estudos recentes indicam que categorias específicas, como refrigerantes e carnes processadas, são particularmente prejudiciais. Contudo, a visão ampla da NOVA ainda é defendida por muitos cientistas, que destacam os riscos associados ao consumo generalizado desses alimentos.

Paradoxalmente, algumas matérias jornalísticas sugerem que existem opções mais saudáveis entre os ultraprocessados. Especialistas entrevistados nessas reportagens recomendam analisar cuidadosamente os rótulos à procura de ingredientes mais simples e naturais. No entanto, essa abordagem pode confundir o público, já que muitos produtos assim classificados na verdade pertencem à categoria de alimentos processados tradicionais.

Por fim, o movimento em torno de "ultraprocessados menos piores" reflete uma postura conservadora frente às mudanças necessárias no sistema alimentar global. Embora seja compreensível procurar soluções intermediárias para facilitar a transição, especialistas afirmam que isso pode levar à complacência. As corporações responsáveis pela produção desses alimentos continuam sendo as principais beneficiárias desse status quo, enquanto a população enfrenta consequências graves para a saúde.

O verdadeiro avanço exigirá uma reformulação mais profunda do modo como enxergamos e consumimos alimentos. Em vez de buscar atenuantes, seria mais produtivo investir em estratégias que promovam dietas baseadas em alimentos inteiros e minimamente processados. Isso não apenas melhoraria a saúde pública, mas também restauraria a autonomia das pessoas sobre suas escolhas alimentares.