O setor de entrega por aplicativos no Rio de Janeiro e São Paulo enfrenta desafios significativos, revelando uma realidade preocupante para os profissionais que passam grande parte do dia em contato direto com alimentos. Um estudo conduzido pela organização Ação da Cidadania aponta que um terço desses entregadores vivencia algum tipo de insegurança alimentar. Esse cenário reflete não apenas a falta de acesso adequado à nutrição, mas também condições precárias de trabalho. De acordo com o levantamento denominado "Entregas da Fome", 13,5% dos entrevistados sofrem com níveis moderados ou graves de insegurança alimentar, superando a média nacional.
Além da questão alimentar, outros problemas estruturais afetam esses trabalhadores. O mesmo estudo destaca que mais da metade (56,7%) labora diariamente, enquanto cerca de 56% das pessoas dedicam mais de nove horas ao trabalho diariamente. Adicionalmente, a maioria não contribui para o sistema previdenciário e já sofreu acidentes ocupacionais. Esses dados são complementados pelo fato de que quase todos os participantes cobrem pessoalmente os custos relacionados aos serviços, como planos de dados móveis e seguro para dispositivos eletrônicos, além de outros equipamentos essenciais para suas atividades.
Essa situação evidencia uma necessidade urgente de revisão das práticas atuais de contratação no setor de entregas. Rodrigo Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, argumenta que este modelo atual de trabalho configura-se como uma forma moderna de escravidão. Ele ressalta que, embora muitos entregadores acreditem estar exercendo liberdade e autonomia, na verdade estão submetidos a longas jornadas e baixa remuneração. Este contexto reforça a importância de políticas públicas e iniciativas empresariais que promovam justiça social e dignidade para esses profissionais, garantindo-lhes melhores condições de vida e segurança econômica.