O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tem alcançado comunidades indígenas em 18 estados brasileiros, proporcionando apoio significativo à segurança alimentar e ao fortalecimento econômico. Em destaque está o território do Alto Rio Purus, onde povos como os Madiha Kulina e Huni Kuin vivem há gerações. Este projeto pioneiro envolve parcerias entre governos federal, estadual e municipal, além de associações locais. No último mês, agricultores da aldeia Kaxinawás receberam cartões que os habilitam a participar do programa, promovendo uma conexão direta entre produtores locais e consumidores escolares.
No coração da Amazônia, em meio às florestas densas do Acre, encontra-se a Terra Indígena Alto Rio Purus. Durante um evento simbólico realizado recentemente na aldeia Nova Fronteira, localizada no município de Santa Rosa do Purus, famílias indígenas celebraram o início oficial do PAA Indígena na região. Esta iniciativa foi marcada por três dias de missão, com representantes do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), governo do Acre, prefeitura local e associações indígenas. O programa prevê a aplicação de mais de R$ 4,2 milhões em recursos federais durante 2025, beneficiando diretamente escolas indígenas.
A secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Lilian Rahal, destacou que esta ação não apenas melhora a segurança alimentar, mas também valoriza as práticas ancestrais desses povos. A agricultora Kelia Rodrigues Huni Kuĩ, conhecida localmente como "Pãi", afirmou que o programa permitirá às mulheres da aldeia expandir seus cultivos para além do consumo doméstico, comercializando alimentos frescos nas escolas e possivelmente até fora da reserva.
O agroflorestal Jorge Domingues, ou "Naxina" em sua língua nativa, ressaltou a importância de revitalizar tradições agrícolas. Ele mencionou produtos como milho-massa, pupunha e cupuaçu, que agora poderão ser fornecidos às instituições educacionais locais. Além disso, o pagamento via cartão bancário facilitará o acesso aos recursos pelas comunidades, superando desafios logísticos impostos pelas distâncias consideráveis entre as aldeias e os centros urbanos.
Com mais de 160 beneficiários já registrados no território, o objetivo é ampliar ainda mais o número de fornecedores. O coordenador do PAA no estado, Igor Honorato, enfatizou que este programa complementa a merenda escolar tradicional, oferecendo alimentos frescos e nutritivos diretamente das mãos dos produtores locais.
Este programa representa um marco importante na luta pela soberania alimentar das comunidades indígenas. Ao incentivar a produção local, ele não apenas garante alimentos saudáveis às crianças, mas também reforça a identidade cultural e a relação harmônica com a natureza que esses povos cultivam há séculos. A partir dessa perspectiva, percebe-se como políticas públicas bem estruturadas podem contribuir significativamente para reduzir desigualdades sociais e ambientais.
Como jornalista observador, fica evidente que o sucesso deste tipo de intervenção depende de colaborações genuínas entre diferentes níveis de governo e as próprias comunidades. Este caso específico demonstra que, quando houver vontade coletiva e respeito mútuo, é possível construir soluções sustentáveis que beneficiem tanto as populações locais quanto o ecossistema amazônico como um todo.