A inflação alimentar acelerou recentemente, com alimentos in natura desafiando as expectativas habituais para essa época do ano. O destaque vai para o aumento nos preços do café e dos ovos, que contribuíram significativamente para a elevação do IPCA-15 em 1,09%. No entanto, analistas como André Braz do FGV Ibre indicam que esse movimento deve arrefecer no mês de abril, especialmente à medida que temperaturas mais amenas reduzam a pressão sobre os produtos agrícolas. Por outro lado, uma queda nos preços das carnes foi observada, com cortes populares como alcatra e lagarto registrando retrações expressivas.
Ainda assim, a inflação anual permanece elevada, situando-se em 5,26%, bem distante da meta estabelecida. Embora especialistas prevejam uma desaceleração progressiva nos próximos meses, há consenso de que isso não implica necessariamente em quedas bruscas nos preços, mas sim em uma estabilização em níveis ainda altos. Os serviços também seguem preocupando, especialmente em relação à demanda robusta durante feriados.
O comportamento atípico dos produtos in natura tem sido um fator-chave no cenário atual da inflação. Durante períodos tradicionalmente associados à queda ou estabilidade nos preços, alguns itens continuaram pressionando as médias inflacionárias. Especialistas destacam que tal situação é temporária, atribuindo-a às condições climáticas adversas que tendem a se dissipar com o avanço do calendário.
No caso específico do café e dos ovos, a influência sazonal tem sido notável. Esses produtos são sensíveis a variações climáticas e ao ciclo produtivo típico das respectivas culturas e criações. Com a chegada de temperaturas mais brandas em abril, espera-se que haja uma moderação dessas pressões. André Braz aponta que, embora a taxa acumulada em 12 meses esteja elevada, a tendência é de desaceleração gradual, especialmente após o período crítico de maior calor. Isso será favorecido pela normalização das condições climáticas e pelo ajuste natural dos mercados agrícolas. Ainda assim, é importante ressaltar que algumas commodities podem continuar resilientes, dependendo das condições específicas de oferta e demanda em cada região produtora.
Enquanto a inflação alimentar apresenta sinais de desaceleração, o setor de serviços continua sendo um ponto de atenção. A alimentação fora de casa, particularmente afetada por eventos sazonais como feriados, registrou aumentos expressivos em março, superando os patamares de fevereiro. Esse movimento reflete uma combinação entre a alta demanda e os reflexos persistentes da inflação estrutural.
Gilberto Braga, economista do Ibmec, sugere que mesmo com uma possível melhora nos preços dos alimentos, os serviços devem manter sua influência significativa sobre o índice geral de inflação. O impacto sobre a demanda, intensificado por políticas de crédito mais flexíveis, é um fator adicional de preocupação para autoridades monetárias. Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, prevê que a inflação alimentar deverá registrar um pico em abril antes de iniciar uma trajetória descendente até meados do ano. Contudo, ele alerta para possíveis recuperações no final do ano, quando fatores sazonais voltam a atuar com força total. Nesse contexto, a análise cuidadosa dos dados mensais será essencial para compreender a dinâmica inflacionária e orientar decisões econômicas futuras.