Os pais deveriam ignorar mais seus filhos – 24/09/2024 – Equilíbrio
Sep 24, 2024 at 3:30 PM
Criando Filhos Resilientes: Uma Abordagem Inspirada nos Caçadores-Coletores
Um antropólogo que estuda como sociedades de caçadores-coletores na África Central criam os filhos, Barry Hewlett, recentemente explicou que, nesses grupos, as crianças acompanham os pais ao longo do dia, ajudam em tarefas como coletar alimentos, e raramente são o principal foco de atenção. Ora entediadas ora participativas, essas crianças passam um bom tempo observando adultos fazerem coisas de adultos.Redescobrir a Sabedoria Ancestral para Criar Filhos Saudáveis e Felizes
Parentalidade Moderna: Desafios e Oportunidades
Nas sociedades contemporâneas industriais, os pais muitas vezes fazem o oposto. No precioso tempo em que não estamos trabalhando, colocamos nossos filhos no centro da nossa atenção. Levamos eles a treinos esportivos e aulas de música. Sentimos culpa se os arrastamos para fazer coisas chatas de adultos. Valorizamos o "tempo de qualidade" em detrimento da quantidade de tempo. Essa abordagem intensiva de parentalidade, embora bem-intencionada, pode gerar estresse tanto para os pais quanto para as crianças.Lições dos Caçadores-Coletores: Aprendizado Através da Observação e Imitação
Durante a maior parte da história humana, as pessoas tinham muitos filhos e as crianças conviviam em grupos intergeracionais sem grande supervisão. Nessas sociedades, as crianças aprendiam não apenas com instrução direta, mas observando e imitando o que as pessoas ao seu redor faziam, seja coletar frutas, trocar um pneu ou curtir com amigos. Isso começava a equipá-las para a vida adulta.Mais importante, seguir os adultos dava às crianças o dom de tolerar o tédio e promovia paciência, engenhosidade e criatividade. A neurociência mostra que um cérebro em repouso não é um cérebro ocioso: a mente trabalha quando é deixada livre para fazer suas próprias coisas. Se você quer filhos empáticos e criativos que saibam como se entreter sozinhos, não mantenha seus cérebros ocupados demais.Subparentalidade Consciente: Equilibrando Atenção e Independência
Para uma educação inspirada nesses caçadores-coletores, uma das melhores coisas que os pais podem fazer —para eles mesmos e para os filhos— é seguir com a própria vida e levar as crianças junto. Você pode chamar isso de "subparentalidade consciente". Isso significa levar as crianças com você não só em tarefas entediantes, mas também quando você trabalha, socializa ou se exercita.Essa abordagem requer que, como sociedade, reconstruamos nossa tolerância para crianças em espaços públicos, por mais irritantes e distraídas que possam ser, e criemos ambientes seguros onde crianças levemente supervisionadas possam vagar livremente. Em uma sociedade que tratasse as crianças como um bem público, manteríamos um olho coletivo em todas elas —o que nos libertaria da necessidade de sobrevoar continuamente nossos filhos.Benefícios da Subparentalidade Consciente
Ao levar as crianças junto em suas atividades diárias, os pais não apenas reduzem o estresse, mas também promovem o desenvolvimento de habilidades essenciais. As crianças aprendem a tolerar o tédio, desenvolvem paciência, engenhosidade e criatividade. Elas se tornam mais observadoras, absorvendo uma tonelada de informações sociais ao acompanhar os pais.Essa abordagem também desafia a noção de que os pais precisam "divertir" constantemente os filhos. Ao ensinar as crianças a desejar estímulos e entretenimento externo constante, pais intensivos podem piorar a dependência das telas. Em vez disso, a subparentalidade consciente permite que as crianças desenvolvam a capacidade de se entreter sozinhas, uma habilidade crucial para a vida adulta.Desafios e Considerações Práticas
É óbvio que, quando as crianças estão chateadas, em perigo ou precisam de orientação, os pais devem intervir para ajudar. E é essa a questão central: apenas se ignorarmos nossos filhos boa parte do tempo conservaremos a energia necessária para lhes dar total atenção quando realmente precisam.Além disso, a subparentalidade requer mudanças estruturais, como licença familiar e creches acessíveis. Também requer que, como sociedade, reconstruamos nossa tolerância para crianças em espaços públicos, por mais irritantes e distraídas que possam ser, e criemos ambientes seguros onde crianças levemente supervisionadas possam vagar livremente.