Honrando a Memória: Um Espaço Sagrado para Luto Perinatal
Nov 11, 2024 at 10:34 AM
No coração da capital espanhola, um novo espaço está surgindo como um refúgio para pais que enfrentaram a dor da perda de um filho durante a gestação ou logo após o nascimento. O Parque de Mariposas (Parque das Borboletas), localizado dentro do Cemitério Municipal Nuestra Señora de la Almudena, oferece um lugar de conforto e reconhecimento para essas famílias, permitindo que elas honrem a memória de seus bebês estrelinhas.
Um Oásis de Conforto em Meio à Dor
Criando um Espaço Sagrado para o Luto Perinatal
O Parque de Mariposas é um lugar único, projetado especificamente para acolher pais que enfrentaram a perda de uma gestação ou de um bebê recém-nascido. Neste espaço, bancos e pedrinhas brancas convidam os visitantes a se sentarem, refletirem e encontrarem conforto. Aqui, os pais podem espalhar gratuitamente as cinzas de seus filhos no meio de um canteiro de rosas brancas, criando um memorial vivo e simbólico. Para aqueles que preferirem, também há a opção de adquirir um nicho ou um columbário para abrigar as cinzas.Reconhecendo a Existência do Bebê
Uma das principais características deste parque é o reconhecimento da existência do bebê, mesmo antes do nascimento. "É importante reconhecer que essa criança já existia no imaginário da mãe antes mesmo de nascer. Criar esse tipo de espaço físico ajuda a elaborar esse luto perinatal. Um lugar para honrar a memória dessa criança que partiu", explica a doula brasileira Erika Menezes. Esse entendimento é fundamental para que as famílias possam iniciar o processo de luto e encontrar formas de homenagear a memória de seus filhos.Sensibilização Profissional: Humanizando o Atendimento
Além da criação deste espaço especial, há também um movimento de sensibilização profissional na Espanha para melhorar o atendimento às famílias que enfrentam a perda perinatal. A doutora Rita María Regojo, patologista do Hospital Universitário La Paz, enfatiza a importância de preparar os profissionais de saúde para acompanhar essas famílias em um momento tão doloroso. "Para acompanhar uma família nesse momento doloroso é preciso preparar os profissionais e melhorar os protocolos nos hospitais. O sistema público espanhol está muito saturado, mas mesmo assim é preciso humanizar a saúde", afirma.Rompendo o Silêncio: A Importância de Compartilhar a Dor
Embora o tema do luto perinatal esteja ganhando mais visibilidade, ainda existe um certo tabu social em torno dessa questão. Algumas mulheres só se sentem à vontade para compartilhar suas experiências após terem outro filho, com medo de serem julgadas ou não compreendidas. "Algumas pessoas ainda não falam da dor realmente, do luto de algo que não veio, do luto de uma expectativa. É muito esquisito porque essa perda é um luto do futuro", relata a brasileira Juliana Leister Raya, que vivenciou uma perda gestacional.Rituais de Integração: Honrando a Memória dos Bebês
Algumas famílias encontraram formas significativas de lidar com a perda perinatal, como a goiana Ângela Nery Soares, que perdeu duas gestações. Ela explica: "A maneira como eu enfrentei essa perda e tive a sorte de contar com a ajuda da minha psicóloga foi fazendo um ritual de integração dos meus dois bebês, cheguei até a dar nome a eles e também escrevi cartas. Assim eu consegui me conectar com eles e mantive os dois vivos na minha história". Essas práticas de luto personalizado podem ser fundamentais para o processo de cura e aceitação.Grupos de Apoio: Compartilhando a Dor e Encontrando Conforto
Além da criação de espaços físicos como o Parque de Mariposas, a brasileira Juliana Leister Raya também destaca a importância de grupos de apoio para mulheres que passaram por perdas gestacionais. "Quando perdi meu bebê fiquei três semanas de cama e até hoje eu choro por essa perda. Conversar com outras mulheres que passaram por isso ajuda muito", ela relata. Esses espaços de compartilhamento e solidariedade podem ser essenciais para que as famílias não se sintam sozinhas em sua jornada de luto.