Um levantamento recente revela que em mais de duas dezenas de cidades, os eleitores optaram por prefeitos que dividirão a administração com familiares. Este cenário permite que, em caso de ausência do titular, o controle permaneça na mesma família. A análise identificou 24 municípios onde a situação ocorre, baseada em documentos enviados à Justiça Eleitoral durante as Eleições de 2024. Além disso, casos como o de Orós, no Ceará, ilustram situações em que o prefeito eleito planeja renunciar para que seu parente assuma o cargo.
A presença de famílias no poder municipal tem implicações significativas na governança local. Em diversas cidades, pais e filhos ou irmãos ocupam cargos-chave na administração pública, criando uma dinâmica única de gestão. Essa prática, embora não ilegal, levanta questões sobre a perpetuação do poder dentro de grupos específicos. O estudo destaca que essa tendência se manifesta em pelo menos onze unidades da federação, evidenciando um padrão nacional.
Em ao menos onze cidades, pais e filhos compartilham o comando das prefeituras, enquanto em outras treze, irmãos desempenham esses papéis. Essa configuração permite que, em caso de impedimento ou ausência do prefeito, o vice-prefeito — que é um familiar — possa assumir sem interrupção. Um exemplo notável é o município de Orós, onde o prefeito eleito Simão Pedro planejou renunciar para que sua mãe, Tereza Cristina, assumisse a prefeitura. Os eleitores foram informados previamente sobre essa estratégia, que foi justificada pela experiência gerencial de ambos.
A presença de clãs políticos nos cargos públicos não é novidade no Brasil. Especialistas explicam que essa prática tem raízes históricas e persiste em diversos níveis do governo. A pesquisa indica que essa configuração política tende a prosperar em contextos de menor rotatividade partidária e concentração de recursos. Isso cria um ambiente propício para a perpetuação do poder dentro de grupos familiares.
Sérgio Praça, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV CPDOC), explica que a política brasileira tem diversos exemplos de famílias que adotam estratégias para manter o controle sobre posições de poder. Ele ressalta que um membro da família pode renunciar ou se licenciar para permitir que outro parente ocupe o cargo, mantendo assim a influência política do grupo. Essa lógica, embora não ilegal, garante que o poder permaneça nas mãos de poucos. Além disso, a consolidação desses grupos familiares geralmente ocorre em contextos onde há uma baixa circulação de lideranças políticas e econômicas, reforçando a dominação de certas famílias no cenário político.