Famílias Dilaceradas: O Impacto Devastador da Prisão Injusta dos Manifestantes do 8 de Janeiro
Oct 17, 2024 at 2:42 PM
Famílias Divididas: O Impacto Devastador da Prisão Injusta dos Manifestantes do 8 de Janeiro
Preso sem denúncia do Ministério Público (MP) por 18 meses, o ex-policial militar Marco Alexandre Machado de Araújo não acompanhou a gravidez da esposa, o nascimento da filha Lyz e nem os primeiros sorrisos, sons ou brincadeiras da pequena. Assim como a família de Marco, outras famílias enfrentam a dor da separação forçada, com pais e mães presos por participarem dos atos do 8 de janeiro, deixando seus filhos desamparados e adoecidos.Crianças Órfãs de Pais Vivos: O Sofrimento Silencioso das Famílias do 8 de Janeiro
### O Caso de Marco Alexandre Machado de AraújoMarco Alexandre Machado de Araújo, ex-policial militar, foi preso sem denúncia do Ministério Público por 18 meses. Durante esse período, ele perdeu momentos preciosos com sua filha Lyz, não acompanhando sua gravidez, nascimento e os primeiros meses de vida da criança. Sua esposa, Juliane, relata que a filha do casal só viu o pai duas vezes, durante as visitas na prisão.Juliane conta que Marco tinha certeza de que seria liberado, pois não havia quebrado nada e apenas ajudado pessoas durante os atos do 8 de janeiro. Ele se apresentou voluntariamente à Polícia Federal, mas nunca mais voltou para casa. Até o momento, Marco segue preso há um ano e meio, sem denúncia do Ministério Público, sem ação penal e sem perspectiva de liberdade.### A Família de Ezequiel Ferreira LuisAssim como a pequena Lyz, os irmãos Francisco, Maria, Ana, Emílio, José e Paulo também estão sem a figura paterna desde que o empresário Ezequiel Ferreira Luis foi condenado a 14 anos de prisão por participar dos atos do 8 de janeiro.Vanessa Rolin Vieira, esposa de Ezequiel, relata que ele era o "porto seguro" da família. Agora, ela precisa cuidar sozinha da empresa, da casa e dos seis filhos, sendo o mais novo com apenas cinco meses. Vanessa diz que as crianças sentem muita falta dos abraços do pai e que ela também sente essa ausência.Segundo Vanessa, Ezequiel não quebrou nada em Brasília, mas permaneceu sete meses preso em 2023 e foi condenado em maio deste ano, alguns dias após o nascimento do caçula. Diante dessa situação, Ezequiel decidiu se refugiar em outro país, deixando a família com a angústia de não saber quando ele poderá abraçar os filhos novamente.### O Caso de Jaqueline Freitas GimenezNo caso de Isabelle, de 10 anos, presenciar a mãe, Jaqueline Freitas Gimenez, ser chamada de "terrorista" e ser levada presa por se manifestar nos atos de 8 de janeiro foi traumatizante. Isabelle e seu irmão mais novo eram muito apegados à mãe, dormindo em seus braços e sempre juntos.Após a prisão de Jaqueline, Isabelle ficou muito sentida, chegando a não conseguir ir ao banheiro por mais de um mês, chorar sem motivo aparente e não conseguir expressar seus sentimentos. A menina chegou a passar mal, sendo levada pela avó à emergência.Wanderson Freitas da Silva, pai de Isabelle, relata que a filha se tornou uma criança triste, cabisbaixa e quieta. Ele se sente indignado por saber que não há nada que incrimine a esposa, mas mesmo assim, Jaqueline foi condenada a 16 anos e meio de prisão.### O Impacto Emocional e Físico nas CriançasDe acordo com a psicanalista clínica Lucianne Lober, coordenadora voluntária na área de saúde mental da Associação dos Familiares e Vítimas do 8 de Janeiro (Asfav), as crianças e adolescentes filhos de presos do 8 de janeiro estão apresentando diversos problemas de saúde.Lucianne relata casos de ansiedade extrema, terror noturno, distúrbios de sono e baixa imunidade. Essas crianças ficam constantemente gripadas, com bronquite e mais suscetíveis a desenvolver outras doenças devido ao sistema emocional comprometido.A especialista cita o exemplo de uma paciente de 15 anos, filha de uma condenada do 8 de janeiro, que está com síndrome do pânico. Segundo Lucianne, o sentimento dessa garota é semelhante ao de um órfão obrigado a viver sem a presença materna, com medo constante. Esse trauma, afirma a psicanalista, ficará para sempre.Além disso, os distúrbios emocionais podem desencadear transtornos e servir como gatilho para o desenvolvimento de doenças autoimunes, como o lúpus. Lucianne alerta que, se essas crianças e adolescentes não receberem o acolhimento psicológico adequado, estarão condenadas a adoecer.### A Necessidade de Atenção UrgenteO neuropsicólogo Otávio Augusto Cunha Di Lorenzo aponta que os casos das crianças e adolescentes filhos de presos do 8 de janeiro precisam de atenção urgente. Segundo ele, a ausência forçada dos pais aumenta significativamente a chance de doenças físicas e mentais, com consequências para o decorrer da vida.Di Lorenzo ressalta que a própria lei resguarda mães suspeitas de crimes, possibilitando que aguardem os processos em casa, com seus filhos. O STF, inclusive, concedeu Habeas Corpus coletivo em 2018 para favorecer todas as mulheres presas nessa situação, argumentando que as crianças "sofrem injustamente as consequências da prisão".No entanto, o especialista aponta que esses direitos parecem ter sido esquecidos nos dias atuais. Ele relata que muitos filhos de presos do 8 de janeiro já estão com crises de depressão e ansiedade, e há casos de crianças que pararam por dias de andar, falar ou comer.