No mundo contemporâneo, a presença de tecnologias e dispositivos digitais é uma realidade inevitável para famílias em todo o globo. Este artigo explora como pais e responsáveis enfrentam o desafio de estabelecer limites saudáveis no uso dessas ferramentas por crianças e adolescentes. Através de histórias pessoais de pais como Maria Vale, Bruno Fernandes e Carla Santos, podemos entender melhor as complexidades envolvidas em criar regras que equilibrem o acesso à tecnologia com o desenvolvimento emocional e cognitivo dos jovens. Além disso, especialistas na área, como a psicóloga Cátia Castro, fornecem orientações fundamentais para promover um relacionamento mais consciente com os meios digitais.
Maria Vale, professora e mãe de Júlia, de 11 anos, lida diariamente com a tarefa de monitorar o tempo de tela da filha. Embora tenha estipulado um limite de cerca de 90 minutos ao dia, a situação não é tão simples quanto parece. O contato constante com colegas da escola através de aplicativos móveis cria dilemas adicionais, já que Júlia justifica o uso do celular para verificar atividades acadêmicas. No entanto, a garota acaba aproveitando esses momentos para acessar conteúdos de entretenimento, como "shorts" e "reels". Para Maria, o principal obstáculo é a falta de maturidade da filha em distinguir conteúdo relevante de informações superficiais ou prejudiciais, especialmente com o surgimento da inteligência artificial, que amplificou esse problema.
Bruno Fernandes também compartilha experiências semelhantes com seus filhos, Maria e Gonçalo, de 11 e quatro anos respectivamente. Apesar de ainda não possuírem celulares próprios, ele reconhece a importância de ensinar cuidado desde cedo. Ao permitir o uso controlado de tecnologias, principalmente para assistir programas educativos no YouTube, Bruno enfatiza a necessidade de filtragem parental. Ele alerta sobre os perigos associados aos jogos online, onde desconhecidos podem enganar crianças menos experientes. Seu foco está em equilibrar o aprendizado digital com métodos tradicionais, como livros impressos, valorizando ambos os recursos.
Já Carla Santos, mãe de João, um adolescente de 14 anos, relata dificuldades específicas ligadas ao vício em vídeos e jogos online. Enquanto tenta incentivar outras formas de lazer, ela admite que nem sempre é fácil traçar uma linha clara entre controle e respeito pela privacidade do filho. Mesmo utilizando ferramentas de monitoramento, muitas das atividades de João permanecem fora de seu alcance. No entanto, Carla adota uma abordagem proativa, acompanhando os mesmos conteúdos que o filho consome e dialogando abertamente sobre eles. Essa estratégia permite intervenções quando necessário, preservando ao mesmo tempo o espaço próprio do jovem.
A psicóloga Cátia Castro reforça a ideia de que o uso responsável de tecnologias começa na primeira infância. Ela sugere diretrizes claras, como evitar completamente o tempo de tela até os dois anos de idade e limitar gradualmente conforme a criança cresce. A partir dos seis anos, o foco deve ser a promoção de hábitos saudáveis, como manter áreas livres de dispositivos durante refeições ou antes de dormir. Para Cátia, a chave está na conversa constante entre pais e filhos, incentivando reflexões sobre o que consomem digitalmente e fomentando uma literacia crítica capaz de discernir informações confiáveis.
Em meio a tantas transformações trazidas pela era digital, fica evidente que encontrar o equilíbrio adequado requer esforço contínuo tanto dos pais quanto dos profissionais de educação. Afinal, enquanto os ecrãs oferecem oportunidades inovadoras, sua gestão inadequada pode comprometer significativamente o bem-estar familiar. A colaboração entre todas as partes envolvidas é fundamental para garantir que as próximas gerações explorem plenamente o potencial positivo dessas ferramentas, sem perder de vista os valores humanos indispensáveis ao crescimento saudável.