No Brasil, o aumento da inflação de alimentos e bebidas tem sido uma preocupação crescente desde os anos 2000. Este fenômeno é resultado de uma combinação de fatores, como a priorização da produção de commodities para exportação, a concentração fundiária, as oscilações do mercado internacional, mudanças nas políticas públicas e, mais recentemente, a crise climática. Desde 2020, a pandemia exacerbou ainda mais essa situação, destacando a necessidade de políticas eficazes para mitigar os impactos econômicos e sociais sobre a população.
A partir dos anos 2000, o Brasil começou a enfrentar um descompasso entre a oferta e a demanda alimentar interna. Um dos principais problemas identificados foi o deslocamento da produção agrícola voltada ao consumo doméstico em favor das commodities destinadas à exportação. Esse cenário se intensificou com eventos climáticos extremos, que dificultaram a colheita e elevaram os custos de produção. De acordo com dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos realizada pelo Dieese, houve picos significativos nos preços entre 2013, 2015 e 2016, culminando em uma escalada alarmante em 2020.
Um elemento crucial nesse contexto é a ausência de intervenção governamental adequada durante os últimos anos. A partir de 2019, a desorganização das políticas de produção e abastecimento deixou lacunas importantes no sistema alimentar nacional. Embora tenha havido uma leve desaceleração nos aumentos de preços no início de 2023 e 2024, a instabilidade climática e a alta demanda externa continuaram pressionando os valores dos produtos básicos.
O impacto dessas transformações é evidente na relação entre o salário mínimo e o custo da cesta básica. Enquanto a cesta ficou 3,5 vezes mais cara desde 2010, o salário mínimo cresceu apenas 3 vezes, comprometendo o poder de compra da população trabalhadora. A retomada de políticas como a valorização do salário mínimo e a recomposição dos estoques reguladores pela Conab representa avanços importantes, mas não são suficientes para conter a alta dos preços.
Diante deste panorama, é fundamental implementar soluções estruturais que garantam segurança alimentar no país. Políticas baseadas unicamente na redução da demanda podem agravar a insegurança alimentar. Em vez disso, medidas resilientes ao clima devem ser adotadas, como o fortalecimento da agricultura familiar, a promoção de práticas sustentáveis e a criação de sistemas alimentares locais e diversificados.
Para enfrentar os desafios futuros, é necessário reconstruir e ampliar estratégias de curto, médio e longo prazos. O foco deve estar em adaptar a produção agrícola às novas condições climáticas, promover cadeias curtas de suprimentos e reduzir a dependência de monoculturas e importações. Essas iniciativas contribuirão para uma política de abastecimento mais equilibrada e justa, capaz de erradicar a fome e melhorar a qualidade de vida da população brasileira.