O Globo Repórter explorou recentemente os desafios enfrentados pelos agricultores brasileiros, que lidam com eventos climáticos extremos afetando a produção alimentar. No Rio Grande do Sul, enchentes devastadoras impactaram significativamente o cultivo de arroz. Já no Norte de São Paulo, uma seca histórica comprometeu a safra de café, levantando preocupações sobre o aumento dos preços. Na região serrana do Rio de Janeiro, as fortes chuvas trouxeram mudanças na forma de cultivar hortaliças, enquanto no Centro-Oeste, reservatórios e tecnologia ajudaram produtores a manterem boas safras mesmo em tempos de estiagem.

No estado gaúcho, as enchentes de maio de 2024 cobriram quase todas as áreas agrícolas da região central, deixando campos inutilizáveis por causa de depósitos de areia. Jair Buske, produtor local, relatou como as águas submergiram até três metros acima do nível do solo, prejudicando sua plantação. Sua família agora trabalha para misturar o solo original com a camada arenosa depositada pelas águas. O esforço é liderado pelo pai de Jair, Alcir Buske, de 75 anos, que opera um trator diariamente para nivelar o terreno. Mara Grohs, pesquisadora do Instituto Rio Grandense do Arroz, alerta que essa recuperação pode levar anos, gerando impactos econômicos diretos aos pequenos produtores da região.

Já no interior paulista, a falta de chuva assola o setor cafeeiro. Em Altinópolis, seis meses sem precipitações culminaram na perda de aproximadamente 300 hectares de cafezais, além de incêndios florestais. Guilherme Vicentini, presidente do Sindicato Rural local, prevê uma queda de 50% na produção deste ano, o que poderá encarecer o café nas prateleiras. Graziela, uma cafeicultora afetada, ressalta o papel crucial da irrigação em mitigar os danos, embora reconheça que investimentos nessa tecnologia são caros e nem todos podem acessá-los.

No Rio de Janeiro, as enchentes de 2011 transformaram a maneira como agricultores da região serrana conduzem suas operações. Teresópolis, epicentro das tragédias anteriores, viu seus moradores adotarem estratégias como diversificação de culturas e uso de estufas para proteger plantações sensíveis, como rúcula e alface. Rosana Marthuchelli, uma produtora local, menciona o medo associado às chuvas intensas após tantas perdas passadas. Essas adaptações permitem que a região continue abastecendo mais de 80% das necessidades de hortaliças do estado.

Por fim, no Centro-Oeste, onde a seca foi prolongada por 164 dias em 2024, agricultores como Willian demonstraram como a tecnologia pode ser uma aliada poderosa. Um reservatório capaz de armazenar 440 milhões de litros de água garantiu a colheita de uma safra recorde de feijão, seis vezes maior que a média nacional. A estratégia permite não apenas preservar as plantações durante períodos secos, mas também aumentar a frequência das safras anuais.

Esses exemplos destacam como a agricultura brasileira está constantemente se adaptando às mudanças climáticas. Enquanto alguns enfrentam dificuldades crescentes, outros encontram soluções inovadoras para garantir segurança alimentar. Os desafios impostos pela natureza exigem tanto solidariedade quanto investimento em tecnologias sustentáveis, mostrando que o futuro da agropecuária depende diretamente dessas iniciativas conjuntas.