Em 2024, o Brasil testemunhou um notável aumento na renda da metade mais pobre de sua população, com ganhos superiores à inflação. Este crescimento foi acompanhado por uma melhoria na distribuição de renda e um aumento na produtividade dos trabalhadores. No entanto, apesar do avanço econômico, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou uma queda significativa, especialmente entre os eleitores de baixa renda. Especialistas destacam que a alta inflação de alimentos pode estar no centro deste paradoxo, afetando diretamente as famílias mais vulneráveis.
No ano passado, em meio a um cenário econômico complexo, a renda da metade mais pobre da população brasileira aumentou 10,7% acima da inflação. Esta evolução ocorreu em um período marcado pela desaceleração econômica e taxas elevadas de juros, demonstrando a resiliência do mercado de trabalho. A melhoria na renda também ajudou a superar a alta inflação de alimentos, que atingiu 7,7%, um item crucial para famílias de baixo poder aquisitivo.
Ainda assim, o governo enfrentou dificuldades na percepção pública. Apesar do crescimento econômico de 3,4% do PIB e da elevação na produtividade, a popularidade de Lula sofreu um declínio expressivo. Segundo levantamentos recentes, o índice de aprovação caiu de 35% em dezembro para 24% em fevereiro, particularmente entre os eleitores mais pobres. Analistas sugerem que este fenômeno está relacionado à sensibilidade das famílias ao custo de vida, especialmente aos preços dos alimentos, que continuam pressionados pelo dólar alto e pela volatilidade global.
O economista Marcelo Neri enfatiza que, embora 2024 tenha sido marcado por um crescimento mais sustentável da renda, sem os incentivos fiscais massivos de 2023, o impacto positivo ainda não se traduziu em apoio político ampliado. Para Marcos Heckscher, pesquisador do Ipea, o aumento dos investimentos e a melhor qualidade do crescimento econômico podem sustentar ganhos futuros, mas dependerão de como o mercado reagirá às condições macroeconômicas.
Do ponto de vista de um observador, este caso ilustra o desafio de equilibrar progressos econômicos com percepções políticas. Embora dados concretos mostrem melhorias substanciais na renda e na distribuição de riqueza, a experiência cotidiana das pessoas, influenciada por fatores como a inflação de alimentos, pode gerar frustrações que ultrapassam benefícios financeiros diretos. Isso reforça a importância de comunicação clara e políticas públicas alinhadas com as necessidades reais da população, especialmente em tempos de incerteza econômica.