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No ano de 2024, o Brasil testemunhou um aumento significativo na renda da metade mais pobre da população, que ultrapassou a inflação em 10,7%. Esse avanço superou os ganhos registrados pelas classes média e alta, com crescimentos de 8,7% e 6,7%, respectivamente. Apesar desse progresso econômico, refletido também no aumento da produtividade dos trabalhadores, a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou uma queda considerável. Analistas apontam que a inflação de alimentos, embora menor que o aumento da renda, continua sendo um fator crucial para a insatisfação popular.

O ano marcou um ponto positivo para a distribuição de renda no país, com os aumentos salariais ajudando a mitigar os impactos da elevação nos preços dos alimentos. No entanto, esse cenário não foi suficiente para reverter a percepção negativa sobre o governo, especialmente entre os eleitores mais pobres. Marcelo Neri, diretor da FGV Social, ressaltou que o crescimento da renda via mercado de trabalho representa uma mudança substancial, sustentada por políticas públicas anteriores como o Bolsa Família. Ainda assim, questionamentos surgiram sobre a capacidade do país de manter esses ganhos frente à desaceleração econômica e às altas taxas de juros.

A análise econômica destaca ainda que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2024, estimado em 3,4%, teve uma composição mais equilibrada do que no ano anterior. Marcos Heckscher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que houve melhorias em setores-chave como indústria, serviços e investimentos. Ele mencionou que os avanços na produtividade podem ser sustentados pelos investimentos realizados no período, mas dependem da criação de novos empregos qualificados.

Por outro lado, especialistas como André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, alertaram que a pressão sobre os preços dos alimentos deve continuar em 2025, influenciada pela valorização do dólar e pelo comportamento das commodities agrícolas. Essa tendência pode agravar ainda mais o descontentamento social, mesmo diante dos avanços recentes na economia.

Do ponto de vista político, Marcus André Melo e Antonio Lavareda destacaram a fragilidade percebida na gestão do governo Lula, atribuída tanto à falta de investimentos estruturais quanto à ausência de uma narrativa clara. Para eles, a imagem de um governo "à deriva" contribuiu para a deterioração da popularidade presidencial, apesar dos resultados positivos em termos econômicos. A situação se tornou ainda mais complexa com polêmicas envolvendo mudanças em sistemas financeiros, amplamente criticadas nas redes sociais.

Embora o Brasil tenha alcançado avanços importantes em 2024, especialmente no combate à desigualdade econômica, os desafios persistem. A inflação de alimentos e a percepção de instabilidade governamental continuam sendo barreiras significativas para a recuperação da confiança pública. O governo terá de encontrar maneiras eficazes de comunicar suas conquistas enquanto aborda as preocupações cotidianas da população, particularmente em relação ao custo de vida. A construção de uma agenda clara e focada será essencial para reverter a trajetória atual e consolidar os ganhos obtidos até aqui.