63% dos pais nunca falaram sobre morte com filhos pequenos

Jun 18, 2024 at 9:23 AM
Single Slide

Pais Precisam Abordar o Tema da Morte com Filhos Pequenos

Um estudo realizado pela University College London em 26 países, incluindo o Brasil, revelou que 63% dos pais com filhos entre 5 e 10 anos nunca conversaram com eles sobre a morte. Apenas 21% tiveram uma conversa sobre o assunto, enquanto 16% falavam abertamente sobre o tema com seus filhos. Especialistas afirmam que, embora seja um assunto delicado, é fundamental que os pais abordem a questão da morte de forma sensível e apropriada à idade da criança, a fim de ajudá-la a compreender a finitude da vida e prevenir possíveis traumas no futuro.

Abordar a Morte com Crianças Pequenas: Um Desafio Necessário

Entendendo a Importância da Conversa

Segundo a psiquiatra Danielle H. Admoni, é normal que os pais tenham receio de falar sobre a morte com seus filhos. No entanto, ela ressalta que é fundamental que eles não se esquivem, omitam ou mentem sobre o assunto. "Minimizar uma perda fará com que a criança crie pensamentos distorcidos e incompatíveis com a realidade, gerando consequências no desenvolvimento psíquico infantil", explica a especialista.A psicóloga Mônica Machado concorda e acrescenta que abordar o tema da morte de maneira sensível e apropriada à idade da criança pode ajudá-la a compreender a finitude da vida e prevenir potenciais traumas no futuro. "Vale lembrar que as crianças não devem ser rotuladas como incapazes de lidar com uma perda. Abordar a morte de maneira adequada pode ajudar a mitigar o impacto emocional e promover um entendimento saudável do ciclo da vida", reforça a profissional.

Iniciando a Conversa

Segundo Danielle Admoni, o ideal é fazer uma sondagem antes de iniciar a conversa sobre a morte. "Pergunte o que ela entende, até para você ter uma ideia do quanto de informação a criança tolera e evitar expor além do necessário. Nem todas suportam muitos detalhes", orienta a psiquiatra.Mônica Machado também ressalta a importância de escolher a pessoa certa para abordar o assunto. "A pessoa deve ser referência de confiança, de vínculo com a criança. Ter o olhar acolhedor, a escuta atenta e a aceitação das reações. Isso é fundamental para que ela consiga processar as informações com total liberdade para exteriorizar suas emoções", explica a psicóloga.

Lidando com Perguntas Repetidas

Danielle Admoni orienta que, quando a criança fizer as mesmas perguntas várias vezes, é preciso ter muita paciência. "Quando vier uma pergunta repetida, use sempre a mesma explicação, mas diversifique as palavras. Ampliar o repertório pode deixar a criança um pouco menos confusa, ainda que ela não tenha total compreensão do que significa a morte", argumenta a psiquiatra.Mônica Machado reforça a importância de não associar a morte com sono ou viagem. "Jamais invente histórias do tipo: 'ele dormiu, descansou' ou 'viajou para bem longe'. A criança entende as frases exatamente como são ditas, e isso pode repercutir negativamente no cotidiano", pontua a psicóloga.

Validando os Sentimentos da Criança

Segundo Danielle Admoni, é fundamental que os pais não desconsiderem o que a criança sente e pensa. "Mostre que você se importa. Ouça-o até o final, sem interrupções. Deixe para falar somente quando tiver certeza de que ele disse tudo o que precisava. Essa postura fará com que seu filho sinta conforto para abrir suas emoções", explica a especialista.Mônica Machado complementa que os pais também não devem esconder seus próprios sentimentos. "Não queira passar a imagem de que está tudo bem. Ao contrário, exponha suas emoções e chore, se tiver vontade. Isso fará a criança perceber que seu próprio sentimento é normal. Demonstre que, assim como seu filho, você também está muito triste, e que é absolutamente natural", elucida a psicóloga.

Participação em Rituais

As especialistas concordam que a participação da criança em velórios e enterros não deve ser forçada, mas pode ser benéfica. "Explique muito bem antes como é o velório ou o enterro, e pergunte se ela quer ir. A criança precisa saber antes que será triste, e que muitas pessoas estarão chorando. Não decida pela criança que ela deve ficar de fora, mas também não a obrigue a ir se ela não quiser, e não deixe que se sinta culpada se não for", esclarece Danielle Admoni.Mônica Machado reforça que os rituais servem para que todos vivenciem melhor a despedida, inclusive as crianças. "Os rituais servem para que todos vivenciem melhor a despedida, inclusive os pequenos. Eles não traumatizam as crianças", afirma a psicóloga.

Apoio e Acompanhamento

Segundo Mônica Machado, é preciso entender que o luto é um processo, e não um evento. "Isso quer dizer que demanda tempo, e cada criança precisará do seu para superar a perda. Pressionar a criança para voltar à vida normal, sem dar o tempo necessário, implicará em outros problemas ou reações negativas", explica a psicóloga.Danielle Admoni alerta que é natural que a criança apresente mudanças de comportamento, como choro fácil, episódios de raiva, agitação e medo de ir à escola. "No começo, deixe-o se manifestar como preferir, sem julgamentos. Há quem prefira chorar e gritar. Outros, precisam de solidão e silêncio para absorver as informações. Permita que seu filho experimente as emoções conforme seu temperamento, mas sempre ficando por perto", orienta a psiquiatra.Segundo as especialistas, é importante buscar ajuda profissional caso a criança apresente episódios de raiva ou hostilidade excessivas, quadros de ansiedade e desmotivação que interferem nas atividades diárias, durando semanas. "Se chegar a este ponto, é hora de buscar suporte com profissionais de psicologia e/ou psiquiatria", alerta Danielle Admoni.