Mães que abandonam seus filhos: ‘Qualquer uma é capaz. É uma questão de circunstância’

Jul 4, 2024 at 10:37 AM
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Mães Abandonadas: Explorando os Custos Emocionais e Financeiros da Maternidade

A maternidade é uma jornada complexa, repleta de desafios e sacrifícios. Algumas mulheres, no entanto, optam por deixar seus filhos para trás, em busca de realizações pessoais ou melhores oportunidades. Esse fenômeno, conhecido como "abandono materno", é o foco de um novo livro da escritora catalã Begoña Gómez Urzaiz, que busca compreender as motivações e circunstâncias que levam essas mães a tomar essa decisão.

Revelando os Segredos das Mães Abandonadoras

Mulheres Famosas e Suas Escolhas Controversas

O livro de Begoña Gómez Urzaiz, "As Abandonadoras", explora as histórias de mulheres de sucesso que, apesar de suas realizações profissionais, optaram por deixar seus filhos. Nomes como Maria Montessori, Doris Lessing e Ingrid Bergman são analisados, revelando que o abandono materno não é exclusivo de mulheres comuns, mas também atinge aquelas que alcançaram o topo de suas carreiras.Ao investigar essas histórias, a autora se deparou com sua própria realidade de mãe, admitindo ter cometido "microabandonos" ao se ausentar nos fins de semana e outros momentos com a família. Essa experiência pessoal a levou a questionar por que o abandono materno a incomodava tanto, abrindo caminho para uma análise mais profunda do tema.

Migração e Abandono: Uma Nuance Econômica e Social

O livro de Begoña não se limita às histórias de mulheres famosas. Ela também aborda casos de mães anônimas, especialmente de mulheres latinas que migraram para a Europa em busca de trabalho, muitas vezes como cuidadoras dos filhos de outras famílias. Essa nuance econômica e social do abandono materno é delicadamente tratada na obra.A pesquisadora descobriu que 99% dessas mulheres abandonaram seus filhos por falta de dinheiro e oportunidades em seus países de origem. Essa realidade contrasta com a imagem comumente associada ao abandono materno, geralmente vinculada a uma busca por realização pessoal ou carreira de sucesso.

O "DNA do Abandono": Padrões Familiares e Autoestima

A psicóloga Carolina Santos Soejima realizou um estudo sobre o abandono materno, buscando compreender se havia um padrão comum na dinâmica familiar durante a infância dessas mulheres. Sua pesquisa revelou que as mães que entregaram seus bebês para adoção não vivenciaram "relações afetivas, envolvimento parental e não receberam reforços positivos", o que influenciou diretamente em sua autoestima e afeto.Essa descoberta sugere que o abandono materno pode estar enraizado em experiências familiares anteriores, desafiando a noção de que se trata de uma escolha individual. Begoña, por sua vez, argumenta que não há um "gene" ou "DNA" de uma "mulher abandonadora", mas sim circunstâncias que levam essas mães a tomar essa decisão.

O Abandono Paterno: Uma Ausência Naturalizada

Enquanto o abandono materno é amplamente discutido e analisado, o mesmo não ocorre quando se trata do abandono paterno. A escritora aponta que a ausência dos pais sempre foi naturalizada, citando o exemplo do poeta Pablo Neruda, que abandonou sua única filha aos dois anos de idade.Begoña destaca que, no Brasil, apenas no ano passado, 172 mil crianças foram registradas sem o nome do pai na certidão de nascimento. Ela argumenta que a lista de pais ausentes é infinita, pois muitos podem estar presentes fisicamente, mas não exercem uma paternidade responsável.

Os Custos da Maternidade: Desigualdades Econômicas e Raciais

Além dos custos emocionais, a maternidade também envolve custos financeiros significativos. Pesquisadoras do Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) da USP analisaram esses custos, revelando uma desigualdade acentuada entre mulheres casadas e mães solo.As mães solo muitas vezes deixam o trabalho porque os custos de terceirizar os serviços de cuidado doméstico não compensam. Já as mulheres casadas com renda alta podem escolher continuar no mercado de trabalho. Essa diferença é ainda mais pronunciada quando se considera o recorte racial, com mães solo negras sendo as que mais se aproximam da linha da pobreza.Esses dados evidenciam que o abandono materno não é apenas uma questão de escolha individual, mas também reflete as desigualdades estruturais que afetam as mulheres, especialmente as mães solo e as de minorias raciais. Compreender esses custos é fundamental para abordar o fenômeno de forma mais abrangente e propor soluções efetivas.